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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Enganos de Direitos Humanos

Alguns colocam entre os direitos humanos o direito à saúde. Acontece que doenças não respeitam tal direito. O Estado e a Sociedade precisam garantir o direito a serviços de saúde, um bom atendimento preventivo e curativo. Primeiro, porém, com ou sem o apoio de outros, todos precisam caprichar para evitar vícios e imprudências que possam colocar em perigo sua própria saúde.

Agora surgiu no Congresso uma proposta estranha que pretende garantir aos brasileiros o direito à busca da felicidade. Ora, tal direito já é de todos, uma coisa que ninguém pode impedir. A felicidade é a única coisa que todos procuram. Ou existe alguém que deseja ser infeliz?

O problema é que muitos não encontram a felicidade que procuram. Por que será? Ora, é muito fácil saber por que. Não encontram a felicidade porque a procuram onde não se encontra. O problema é saber onde procurar, e como procurar. O egoísta que anda procurando momentos felizes só para si não vai encontrar a felicidade.

Uma felicidade construida sobre a infelicidade de outros não resiste ao tempo. Mesmo sendo egoísta por natureza, o ser humano não será feliz se não aprender a amar. Dizendo a mesma coisa na perspectiva da comunidade: Sabendo que para nossa felicidade é importante sentir-nos amados, precisamos aprender a amar os outros como queremos ser amados. Para que todos sejam amados, é preciso que todos procurem amar.

As proclamações de direitos humanos precisam deixar bem claro que todos os direitos têm seus limites nos direitos dos outros. Temos o direito à busca da felicidade, sim, mas apenas na medida em que não atrapalhamos a felicidade dos outros.

Em muitos filmes e novelas, a felicidade é procurada fora da família. Criam um contraste entre a monotonia de um casamento e os atrativos de outras aventuras. Será que na vida real também é assim? Pílulas e camisinhas prometem prazeres livres de consequências não desejadas, momentos felizes sem preocupação com o futuro, mas tais conquistas fáceis atrapalham a construção de uma grande história de amor.

A procura despreocupada de momentos felizes pode preparar um futuro infeliz. O exemplo mais evidente é a droga. Você conhece algum viciado feliz? Basta abrir os olhos para ver a infelicidade dos viciados em drogas. Quanto aos viciados em crack, quase não se pode ver adultos nessa dependência infeliz, porque poucos chegam à idade adulta. O diabo tem um aliado dos traficantes: O medo do adolescente de ser chamado de careta. O mesmo medo de críticas de colegas enfraquece a resistência contra tentações e seduções que procuram atrair o jovem cada vez mais cedo para uma vida de promiscuidade. Sexo sem amor pode dar prazer, mas não é caminho para felicidade.

Outra façanha do diabo é conseguir que muitos jovens considerem a religião como coisa de careta e a Igreja como inimiga da festa da vida. Falsos profetas estão caindo no outro extremo: Prometem uma religião de prosperidade que livre seus seguidores do sofrimento de doenças e de todos os problemas.

Jesus não veio tirar seus seguidores das condições naturais da existência terrena. Pelo contrário, quem quiser ser seu discípulo precisa também carregar sua cruz. Mesmo no plano natural, a felicidade não se deixa encontrar por pessoas que ficam buscando demais. Ela é presente de surpresa para quem procura realizar a sua missão e passar pela vida fazendo o bem. A vida nos é dada para fazer coisas boas. Não podemos ser apenas consumidores de felicidade. Precisamos produzir felicidade. O ideal do cristão vai muito além de leis e mandamentos que proíbem o mal.

A felicidade do cristão tem sua raiz na fé. É por isso que se diz que um cristão triste é um triste cristão. Nietzsche, o alemão “filósofo do niilismo” e da “inversão de todos os valores”, filho de pastor protestante, diz assim: Mais redimidos deviam apresentar-se os cristãos, para que eu pudesse acreditar no Salvador deles.

Muitos cristãos ainda não percebem que os mandamentos de Deus não estão aí para cercear a nossa alegria de viver, mas para favorecer uma felicidade maior. Deus nos deu olhos para ver a luz, mas muitos preferem enxergar apenas as trevas.

Muitos vivem procurando os pequenos prazeres deste mundo porque não têm a felicidade de sentir o amor de Deus na sua vida. Aí está o segredo existencial da vocação e da vida do missionário: Não se baseia numa obrigação, mas na vontade de partilhar com outros a felicidade da fé. O amor de Deus quer chegar a todos por meio do amor dos seguidores de Jesus.

Apesar do comportamento errado de muitos cristãos, e até de padres, a Igreja deu a sua contribuição fundamental para o reconhecimento universal dos direitos humanos. Só que neste mundo secularizado está surgindo uma tremenda confusão. Novas leis pretendem ampliar os direitos de uns às custas dos direitos de outros. Em nome dos direitos humanos, em nome dos direitos da mulher, estão querendo dar à mulher o direito de passar por cima do direito mais elementar do próprio filho, do direito à vida.

Tal confusão tem sua origem na desordem familiar, no desprezo pelo sexto mandamento: O mundo de hoje não quer reconhecer que o adultério é pecado que precisa ser evitado mesmo quando não é proibido pela lei civil. Escândalos causados por padres e explorados por uma propaganda cheia de protestos indignados dos inimigos deixam ver que mesmo esses ainda reconhecem no seu íntimo que existem pecados no campo do sexo. Procuram minar a autoridade do Papa que incomoda com sua firmeza moral, atribuindo a ele o poder de controlar a vida pessoal de cada um dos 400 000 padres espalhados pelo mundo inteiro.

Tais protestos têm um lado bom: Vão impedir a descriminalização da pedofilia que já foi tentada em alguns países. O abuso sexual de menores é um pecado muito grave, mas o aborto também não é pecado menor. Mesmo assim, muitos querem descriminalizar o aborto. Querem leis que permitam tirar a vida de crianças no ventre de sua mãe que devia ser o lugar mais seguro do mundo. Mesmo países onde quase todos se dizem cristãos admitem o aborto. Pior, nem as leis contra o crime do aborto conseguem evitar a sua prática. Vivemos no mundo dominado por uma confusão de valores imaginada por Nietzsche faz mais de um século.

Dom Cristiano Krapf

Artigo publicado no Portal da CNBB em junho de 2010.

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